Eu não sei amar pouco. Não sei como dar só um pedacinho de mim, e também não espero receber isso de alguém. Eu nunca me contentei com pouco. Talvez seja o mau do sol em capricórnio, ou para você que acha essa coisa de signo uma total roubada seja só ambição mesmo. Mas a verdade é que eu não quero me conter, me privar de nada, refletir até onde eu posso ir. Não quero me limitar. Não tenho paciência para filtrar minhas palavras ou me perguntar se eu deveria mandar aquela mensagem ou não, se deveria chamar para sair ou não, se eu deveria falar sobre minhas milhares de teorias malucas sobre o universo ou se tudo isso é demais. Mas sou eu, talvez eu seja "eu demais", talvez eu seja "amor demais''. Me desculpe se eu transbordo. Inclusive, às vezes eu mesma acho que sou pequena demais pra todos esses pensamentos dentro de mim. Um dia desses eu me perco em mim mesma.

Não se engane, a sensação de indiferença que posso causar de imediato é só parte do autocontrole. Não quero assustar, chegar do nada. Eu não sou de colocar só o pé na água, eu vou devagar e quando vejo já estou submersa, o problema é que pular na piscina sem saber nadar geralmente causa mais afogamentos do que nados sincronizados. Às vezes o amor não mergulha fundo o bastante porque tem medo do mar. Mas quem o culparia? A imensidão é assustadora para quem só nadou em águas rasas. O grande problema é que a maioria não parece disposta a ir fundo o bastante. Eu sei, é mais fácil voltar a superfície sem nenhum problema quando não se vai tão longe. Uma vez li em algum site bobo que o amor é como duas pessoas segurando um elástico, quem solta primeiro machuca o outro. Eu poderia dizer que quem largou tudo fui eu, mas minhas cicatrizes me entregariam totalmente.

Não sou mentirosa, já invejei todo esse desapego. Já tentei seguir a linha de quem não se importa. Talvez você pense que a partir daí parei com o meu romantismo crônico e vivi uma vida muito mais feliz sem frustrações, certo? Errado, muito errado. Às vezes fico pensando como duas pessoas tão diferentes podem ter, em algum ponto dessa vida maluca, seus caminhos cruzados. Não seria mais justo se o destino só colocasse na nossa frente quem está na mesma sintonia? Acho que ele tem um fraco pelo caos. Mas de bagunça aqui dentro já basta a minha. Acontece que eu já me culpei por sentir demais, assim como já condenei quem sente de menos. Não, eu não sou a senhorita dona da razão, nem ao menos sei o que estou fazendo, mas depois de um tempo percebi que não se deve pedir por amor. E mesmo assim, depois de tantos desencontros meu coração ainda é ruim de mira. Ruim pra cassete se quer mesmo saber. E talvez a parte mais complicada de tudo é que eu não tenho a menor ideia de como consertar isso. Não sei se tudo não passa de imaginação minha ou se é real. E se não for recíproco, ainda é amor?

Na verdade, o que sempre me gerou um interessante particular é: o que exatamente nos faz apaixonados? Talvez para você sejam os filmes favoritos em comum ou até mesmo aquele hobby que você sempre quis ter, mas não investiu por preguiça. E eu? Eu me apego demais aos detalhes, ao jeito que ele sorri com o rosto todo, como o cabelo dele fica bagunçado quando ele o balança ou o som que a risada dele tem. Talvez eu preste atenção demais a essas pequenas coisas e esqueça do mais importante: reciprocidade. Dessa vez eu jurei que estava no controle, mas eu me precipitei. Eu abri a porta. O amor entrou e a deixou aberta. Eu pensei que era cautela, mas então ele saiu e descobri que na verdade ele nunca tinha pensado em ficar. O amor veio de repente. Sem avisar. Chegou assim: aos poucos e de uma hora pra outra me fez duvidar, negar, odiar, desacreditar. O amor analisou o terreno para encontrar o ponto de partida no meio da estrada. O amor me tirou do chão pra depois me derrubar. Então foi aí que eu descobri que o amor na verdade não era amor. O amor, nunca foi amor. Ainda bem que não era.



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