Oi gente! Tudo bom com vocês?
Meu nome é Camille e eu sou a nova colunista do blog! Conheço a Carol já há algum tempo - por meio de outro blog onde colaboramos, o Viciadas em Livros, e fiquei muuuito feliz quando ela me convidou para escrever no Que tal, Carol?
Espero que vocês gostem do meu conteúdo - escrever é como respirar para mim, então estejam preparados para ler muita coisa, hahahaha. Estarei por aqui uma vez por mês - sempre no primeiro Domingo do mês, e se quiserem falar comigo ou mandar alguma sugestão de post, é só comentar aqui ou falar comigo pelo meu twitter @camillecarboni.
Pro post de hoje resolvi escrever um conto e espero muito que vocês gostem!
♥
Ela transita por entre a
multidão com maestria. Com a habilidade de quem poderia estar acostumada à
nevoa esbranquiçada há anos. Os ombros incorporam o espírito da música que
vibra em seu tímpano. Seus saltos brincam fora do ritmo. Ela não se importa.
Continua a se esgueirar por
meio de casais efêmeros até que seus olhos reconheçam a pequena placa
brilhante. Os ombros não param. Seus lábios já aprenderam o refrão e criaram
aversão ao formato linear. Suas mãos não se esforçam ao encostar na superfície
da porta.
Batons são compartilhados e
saias são arrumadas. As conversas abafadas confundem-se com os musicais
pensamentos que não deixam de permear sua mente. Os saltos não querem parar.
Mas param. E as mãos e ombros e lábios também. Dão espaço aos olhos.
O batom agora concentra-se
nas extremidades da boca. Os cílios são pesados demais para manter a aparência
de quando passara a última camada de máscara. Uma gota de suor percorre sua
nuca e não é a única. O frizz próximo à orelha anuncia que o liso não demoraria
a cessar. Ela não se importa.
A música agora é outra. Seus
dentes ameaçam uma brusca separação. Ela os reprime. Precisa esquecer o
ambiente amarelado antes de deixar suas cordas livres. Os joelhos cansados
precisam fazer a parte deles. Mas o espelho criou pontes invisíveis que agora
prendem seus olhos pequeninos e amendoados à imagem a sua frente.
Engole em seco. As pequenas
irmandades ao seu redor parecem não enxergar a pouca altura sobre vinte
centímetros de cortiça. A ínfima unha sobressalente começa a ritmar com o
mármore. Ergue a sobrancelha direita. Cerra os olhos. Esboça um sorriso a
escancarar suas covinhas.
Desfoca o mundo a sua volta
e, pela primeira vez, é ela. A segunda voz não se esvaiu, foi retirada. A
armadura não se cansou, foi despedaçada. A falsa vitrine de vidros poluídos e
espinhosos não mudou, foi destruída.
Ela chacoalha as
articulações. Ela ignora o desequilíbrio. Ela sustenta o exibicionismo dos
dentes tortos. Ela acena para o nariz afilado. Ela pesa as mãos ao encostar na
superfície da porta.
O ébano acomoda seu olhar e
o latejo dos ombros fragmenta-se aos poucos. Agora ela conhece a música. Todos
os seus versos e pausas. Agora seus lábios rachados poderiam romper com o
choque dos castanhos fios grossos que não mais são controlados. Encara uma
multidão de olhos envidraçados. Alcança o ímpeto de seu silêncio. Decodifica
todas as interrogações. Ela não se importa.
Ela transita por entre a
multidão com maestria. Encontra o espaço que seus quadris esmagados tanto
suplicaram por. Fecha os olhos. O microfone ainda explode em seus tímpanos. A
ilógica iluminação secundária não consegue sua atenção. Ela a tem a si própria.
Aos lábios desesperados e ouvidos masoquistas e pés extasiados. Ela tem a si
própria. E as percepções paranoicas desaparecem. E ela sorri para completar o
suspiro.