Eu sou repetitiva. Não sei se há algum traço de perfeccionismo ou apenas algo que beira a indignação. Mas eu sou repetitiva. Seja para assuntos que sempre saem da minha boca ou da boca de outrem. Se me incomoda, eu vou falar.
E se tem algo que além de me incomodar, me entristece, é a atmosfera de ódio e intolerância que a internet e a generalizada falta de interpretação criaram.

A internet, cada vez mais, cria uma teia de aranha capaz de interligar o interior de Goiás ao deserto de Gobi em frações de segundo. Nenhum terremoto pensa em acontecer na Ásia sem que toda a Europa fique sabendo antes. E isso é bom? Bem, a discussão sobre globalização e seus efeitos depende da opinião de quem fala, mas se querem saber a minha, sim, eu creio que escancarar as diferenças e a multicultura do nosso planeta só podem ser benéficas, pelo menos a longo prazo, porque a curto, quando ainda não conseguimos nem conviver com uma igreja Católica e um centro de Umbanda na mesma avenida, para citar um exemplo, mostrar um mundo inteiro de possibilidades para quem foi acostumado a viver dentro da bolha - todos nós fomos, é um choque e tanto. Choque que desperta diferentes reações dependendo de tudo o que já aconteceu na vida daquela pessoa até então. Eu gosto do diferente, acho que o mais interessante e encantador da vida é lidar e conhecer a multiplicidade de hábitos e costumes e opiniões, mas isso reflete toda a minha educação e experiências de vida, seria muita prepotência generalizar. E a internet põe a prova todo o respeito e educação que as pessoas dizem ter, porque em uma curta análise, percebemos que, na maioria das vezes, só respeitamos quem pensa como a gente ou, muito mais comum, respeitamos até a página dois: te respeito na sua frente, mas sim, vou falar que as suas opiniões e cultura são erradas ou ridículas na frente de quem concorda comigo. E a internet, ironicamente, inverte tudo isso.

Você pode deixar a suas opiniões sobre qualquer notícia. As pessoas podem curtir suas ideias. Podem falar sobre elas também. E é esse sentimento de importância que leva ao egocentrismo e o problema está criado, porque não, a verdade é que ninguém quer saber a sua opinião. Elas querem mostrar a delas, querem ganhar um troféu de opinião verdadeira e querem que o mundo passe a venerá-las. E eu sou bem ignorante em psicologia, antropologia e sociologia, mas não tão alheia ao mundo para saber que essa situação é problemática e pode chegar a níveis estressantes.

A falta de contato humano, os olhos nos olhos, perceber a expressão do outro mudar, cruzar os braços e inquietar as pernas, isso tudo fora substituído por uma tela e dedos viciados em digitar. Atrelados à sensação de anonimato que o distanciamento causa, a uma certa dificuldade em se expressar por meio da escrita e os altíssimos níveis de analfabetismo funcional, discussões de mais de cem comentários passam a ser rotineiras nas páginas do Facebook de jornais e revistas. Mas não costumam ser saudáveis, infelizmente, mas justamente o contrário. Ódio gratuito resumiria bem, com destaque para os preconceitos - minorias, pessoas com posicionamento político explícito e religiosos são quase demonizados, ataques puramente arbitrários e pessoais, como os que dizem respeito às roupas usadas pela pessoa, onde ela trabalha ou estuda, piadas que na verdade se enquadrariam no que a justiça chama de discurso de ódio e, enfim, uma falta de respeito pelo próximo que nos faz pensar que todos se esqueceram que somos todos humanos, moradores do mesmo planeta, vindos sabe-se lá de onde e indo também para sabe-se lá onde, por mais que, no fim, acabemos todos sob a terra ou em forma de cinzas por aí.

É um ciclo quase interminável de ataques que costumam servir apenas para engrandecer o ego e confirmar que, cada vez mais, temos problemas em aceitar o diferente. Opa, olha lá, te chamei de coxinha, sou sensacional por causa disso! Feminista esquerdopata, que incrível, minha autoestima cresceu 1000% pelo """xingamento""". De repente, ter qualquer posicionamento sobre QUALQUER assunto, da crise financeira ao jogo de futebol da quarta-feira, torna-se um crime para quem escolheu x enquanto você fala de y. E isso acontece em páginas literárias também, viu? Quantas vezes não vi leitores se sentirem superiores apenas por falarem mal da saga Crepúsculo? E os que não consideram Harry Potter literatura e sentem a necessidade de diminuir os leitores por causa disso? Sem contar as longas e chatas discussões sobre a qualidade do livro! Como se todos nós nos tornamos máquinas em algum momento entre a transição do Orkut para o Facebook, como se a vida fosse uma mera equação matemática que despreza os desvios.

Eu já fiz um trabalho bem grande e detalhado sobre o assunto para uma feira de ciências no colégio, e confesso que o processo de pesquisa me deixou bem chocada e, principalmente, alerta para a desumanização do ser humano, que não consegue mais sentir empatia pelo outro simplesmente por ele ser humano também. A convivência se tornou uma competição onde não existe fair play e o prêmio, bem, esse deve conter algo como solidão, um lugar no Guinness por não conseguir ouvir opiniões diferentes da sua, autoestima forjada sobre um mar de falta de confiança e um sentimento de onipotência quase religioso, eu diria.

Mas onde eu quero chegar? Eu quero mais é que as pessoas espalhem cada vez mais amor! Esse quadro atual dificilmente será revertido se nós não enxergarmos o outro lado disso tudo: a oportunidade de mostrar para quem ainda é intolerante a beleza da diversidade! É muito bom lembrar que, provavelmente, todos nós um dia já fomos intolerantes e, ainda mais provável, há uma grande chance de sermos intolerantes em relação a algo atualmente. Eu mesma já fui bem intolerante, e foi a convivência com a diferença, seja por meio de viagens, novos círculos sociais, internet e também por meio de livros - o assunto da empatia por meio de livros é bem discutido também, né? Foi assim que eu, aos poucos, fui enxergando o que havia de errado em não enxergar um mundo de possibilidades que eu ignorava! Então, por que não tentar combater a ignorância com a gentileza? Ao invés de ironizar, por que não mostrar informações e opiniões de forma didática e amigável? 

A esse ponto do texto eu acredito que todos já perceberam que a internet apenas potencializa e escancara o que nós realmente somos com a sensação de anonimato e invencibilidade, então, por que não começar a pensar mais sobre o assunto em si e aplicar em casa, por exemplo? Por que não criar um ambiente de aprendizado e troca de opiniões ao invés de alfinetadas e sarcasmos entre amigos? Sempre é uma boa hora para aprender e ensinar, porque no fim, o que queremos para o resto de nossas vidas? Eu queria um mundo com mais sorrisos e menos necessidade de afirmar para bilhões de pessoas que, dentro de um infinito universo, há apenas uma resposta certa. Nada é exato, e desde que eu entendi realmente essa frase, minha vida se tornou muito mais leve e divertida, com mais possibilidades e incríveis momentos de aprendizado e descoberta do novo. Afinal, quanto mais conhecemos do mundo, mais empatia sentimos por ele e menos intolerância destilamos por aí, e assim criamos, com passinhos de formiga, um mundo mais legal e com pessoas que deixam amor a cada esquina onde passam. 

E por que não começar discordando comigo nos comentários e criando uma conversa saudável e agradável? <3


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