Fui ao shopping um dia desses e a fila de crianças acompanhadas pelos pais fazia parecer Junho e uma Quadrilha de Festa Junina, e não Dezembro e o Natal daqui algumas semanas.
Tentei fugir daquela incrível decoração em vermelho e verde, que certamente custara uma fortuna, mas ela me seguia em cada corredor virado. Algumas juntamente com adornos dourados, outras com a clichê porcentagem de desconto. Mas sempre ali. Quase em uma perseguição esquizofrênica.
Como fui parar ali novamente? A roupa espessa do Papai Noel me dava calafrios e a balbúrdia causada pelo choro das crianças afetou a minha orientação. Ah sim, a quantidade de pessoas atrás de presentes de Natal e descontos sobre os descontos colocou-me a nadar contra a corrente. O que eu ouvia lá no fundo era uma música natalina? Bem, delas eu gosto, mas a acústica de um shopping não é a mais indicada. Muito menos quando se aglomera crianças em um espaço pequeno demais para o alcance de seus gritos.
A porta de vidro então se abriu e os quentes ares de um verão adiante me atingiram em cheio. Coitado do Papai Noel. Pelo menos lá dentro tinha ar condicionado. Acho que vi neve, também. Mas agora não importava mais. Me livrara do frenesi. O ônibus não tinha sistema de refrigeração e não, não dava para se esquecer que o Natal no hemisfério Sul é bem do esquisito.
Mas é Natal, né? Os filmes e episódios especiais de séries invadem a televisão e a gente finge. Finge que a família é perfeita feito aquela do comercial da Sadia. Finge que todo mundo se ama. Finge que não comprou aquele presente só por educação. 
Os pensamentos passavam pela minha cabeça assim como mais e mais decorações de Natal passavam pela janela do ônibus. Daqui a pouco algum ambulante entra no veículo e anuncia que o carregador portátil de celular está com precinho de Natal especial para você. Droga. Saí do shopping e esqueci de comprar o presente para o meu amigo secreto. Aliás. Será que eu li direito o que ele pediu na lista? Não quero voltar na casa da minha tia para confirmar.



Quanto drama, você deve pensar, o que faz uma pessoa ser tão revoltada com o Natal assim?
O engraçado mesmo é que eu amo o Natal.
Os comerciais da TV me fazem chorar. Faço maratonas de filmes bregas mesmo e não tenho vergonha de admitir. Adoro comprar presentes para todo mundo. Gosto mesmo das músicas. Amo a atmosfera natalina, acho bonito.
Mas para por aí.
Odeio a comercialização do mesmo. Não ligo muito para o significado original não. Só passei a criar o meu próprio: separar uma épocazinha do ano para comemorar. Ficar feliz apenas porque tudo fica mais lindo quando dá para fingir que a qualquer momento vai começar a nevar no meio da Avenida Paulista. 
Mas por que isso, enfim?
Porque eu odeio essa tendência de sempre ser feliz, sempre agradecer, sempre amar todo mundo. Porque ninguém é assim. Ninguém está feliz o tempo todo e caramba, hein, que chato seria se nada nos incomodasse, se tudo estivesse bem, em perfeita forma. Que chato seria se, enfim, todos nós fossemos apenas robôs. Que não sentem nada além do óbvio. Que não podem ficar quietinhos com a sua tristeza. Sem lágrimas porque algum projeto não deu certo. 
Então, parar um pouco com qualquer coisa que esteja dando errado para fingir que a harmonia da ceia de Natal é o resumo da família me faz bem. Eu gosto desse fingimento. Eu amo ficar algumas semanas imersa em ares que não são rotineiros. Porque tudo que vira rotina cansa. Fica chato. Blasé. Irritante. Repetitivo. 
Fingir renova as esperanças. Mesmo que algum parente chato estrague o Ano Novo alguns dias depois. Mesmo que você não passe no vestibular em Janeiro. Mesmo que chova durante todos os seus dias de férias no Nordeste.
Fingir que está tudo bem é uma daquelas coisas que a gente precisa fazer, de vez em quando, para retomar a inspiração e trazer aquela sensação gostosa de que a gente pode tudo no universo.
Então, que bom que o Natal só acontece uma vez por ano. É o suficiente. É gostoso esperar outros onze meses para enfim entrarmos no mercado e nos depararmos com uma imensidão de panetones. É uma delícia esperar pela comida da avó no almoço de Natal. 
É incrível que, uma vez por ano, tudo finalmente dá certo.

Feliz Natal para vocês, espero que todos amem Esqueceram de Mim como eu amo <3


5 Comentários

  1. Adorei o texto.
    Parabéns!!

    Pedro Oliveira
    http://pedrimoliveira.blogspot.com

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  2. Natal realmente virou comércio, e o verdadeiro significado foi perdido, infelizmente :/

    Beijos,

    http://sweetlikecaramel.blogspot.com.br

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  3. Oi Carol,

    Amo o Natal, principalmente seu significado original. Concordo que essa comercialização que fazem sobre a festa é cansativa e banal.

    Beijos

    http://meninasnaliteratura.blogspot.com.br/

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  4. Oi Carol, tudo bem? Realmente houve uma re-significação do Natal, atribuo não apenas ao lado comercial, que fica muito mais apelativo nessa época, mas também as mudanças de valores, o culto aos prazeres imediatos, ao prazer da vida apenas, perdeu-se o equilibro ente o Divino e os Prazeres do mundo, como diria Liz no livro Comer, Rezar, Amar. Apesar de tudo isso, ainda prefiro acredito e cultivar em mim a essência dessa data, tão nostalgica.
    Parabéns pelo post!!
    Um beijão, Bru - www.naoemprestolivros.com.br

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  5. Olá Camille!
    O Natal é uma época maravilhosa. O significado dele e as comemoração são maravilhosas e unem pessoas. Eu adoro! Realmente sempre tem uma coisinha ali e aqui que nos irrita nas compras e na comercialização.
    Beijos, Garota Vermelha
    livrosdagarotavermelha.wordpress.com

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